Como se envelhece rápido, como a sabedoria nada tem a ver com a idade: não nos tornamos mais sábios, apenas conscientes de que os riscos são inerentes a qualquer ação. E então refreamos os desejos, pois tememos que nossos músculos enfraquecidos não mais respondam aos desejos do coração e das memórias. E então preferimos nos calar, calar os desejos, evitar que a vida bruta que nos corria nas veias, naqueles anos, continue a fluir pelos tendões enrijecidos. E então esse medo nos faz precavidos, preferimos aconselhar, nos resguardar da própria vida, como vassouras desgastadas, nos esconder em nossas roupas de lã, mesmo num verão como este. E então tudo o que nos resta é posar de sábios, como se a proximidade da morte nos fizesse melhores conhecedores da vida. Não nos tornamos sábios, apenas velhos, com nossos compromissos, nossos sonhos não cumpridos e, quase sempre, uma vida inútil atrás de nós.